Sobre humanos e pets
janeiro 12, 2017 8:07 pm Deixe um comentárioO envolvimento entre homens e animais de estimação vem desde a pré-história. Estudos recentes, baseados em descobertas arqueológicas e métodos modernos de datação, apontam para um convívio de trinta mil anos.
Ao longo desse período, a interação entre os animais e seres humanos se estabeleceu de diversas formas. Falando sobre os cães, sua capacidade de adaptação ímpar ao mundo dos humanos – talvez a maior entre os mamíferos – permitiu desenvolvermos uma relação de afeto que transcende em muito a simples utilidade (exemplo: os cães guardam / ajudam na caça / proteção / transporte, etc. e em troca recebem comida). Quem tem um cachorro em casa sabe disso. Um simples olhar sonso ou a alegria ao chegarmos do trabalho é o bastante para desarmar qualquer coração humano. Quando vemos, estamos correndo atrás da bolinha com eles!!!
De algumas décadas para cá, nosso envolvimento com os pets tem crescido exponencialmente. Basta olharmos os diversos programas de TV, que explicam desde como os cães se comportam em situações diversas até qual o melhor esmalte para a unha do seu periquito, passando pela infinidade de produtos, serviços e propagandas que movimentam anualmente, no mundo, a soma de mais de cem bilhões de dólares americanos!!! É o segundo maior mercado de produtos de consumo, atrás apenas dos eletrônicos. Não me surpreenderia, portanto, se um gênio qualquer desenvolvesse um Smartphone para iguanas.
E aí surge a questão: num mundo humano onde a individualidade prevalece, famílias menores, apartamentos pequenos, em que muitas vezes os pets se tornam verdadeiros depositários de afeto, será que não estamos sobrecarregando os animais com uma carga humana excessiva? E ainda por cima tirando seu espaço? Em qualquer relação, como a de humanos e cães, por exemplo, é natural que um adquira certos comportamentos do outro. Mas, nesse caso, se ainda não latimos – pelo menos a maioria dos humanos – queremos que nosso cão fale conosco.
Cães, como humanos, precisam de contato com semelhantes. Precisam de espaço para correr, desenvolver suas habilidades físicas, motoras, emocionais e sociais. Na nossa creche, assim como em muitas outras creches para cães espalhadas pela cidade, vemos claramente a necessidade dos nossos amigos estabelecerem laços com outros cães. Brincar, correr, testar o “amigo”, latir, ou seja, formar uma matilha onde achem seu espaço social, os torna muito mais serenos. Para dizer isso, tomo como base a evolução dos nossos “alunos” e o depoimento dos nossos clientes de creche: em casa, quando voltam da “escolinha”, dizem que ficam mais tranquilos com “seus” humanos, se alimentam de modo regular, brigam menos com outros cães e dormem melhor.
Vivemos numa sociedade interespécie. A relação com nossos pets pode ser um primeiro passo para abrir nossos horizontes e perceber o mundo não humano – e humano – à nossa volta. Para isso, podemos pensar nossa convivência numa dinâmica mais ampla. A medicina veterinária vem adquirindo um nível de especialização que nos assegura tranquilidade quanto à saúde física dos animais. Desde algumas décadas, estudos conduzidos por biólogos, veterinários e profissionais da área tem ajudado a descobrir aspectos comportamentais importantes. Isso é ótimo para compreendermos nossos animaizinhos. O próximo passo, creio eu, deve vir de cada um de nós. Sugiro fazermos a seguinte pergunta: “Será que, ao pensar no bem-estar do meu pet, estou realmente fazendo o que ele precisa?”. A resposta não é fácil. Tenho certeza de que fazemos o possível e até o impossível para que vivam bem, sempre com a melhor das intenções. Mas se quisermos “aprimorar” nossas intenções, há vários livros que nos orientam. Um desses livros sobre comportamento canino cuja leitura recomendo se chama “Cão Senso”, de John Bradshaw. Pode ser achado nas livrarias, tem versão em português, aborda aspectos novos da ciência do comportamento canino e é escrito numa linguagem bem acessível.
Dizemos que nossos pets nos amam incondicionalmente. É verdade. E como amor se baseia também no convívio diário, amizade, companheirismo e conhecimento do outro, que tal fazermos um esforço extra para entender esses seres que, quando chegamos em casa, nos lambem, dão carinho, aconchego e parecem nos entender tão bem?
Abraços a todos!
Ricardo
Ossos do Ofício
Creche e Hotel para Cães
Categorizados em: Artigos Científicos, Dicas
Este artigo foi escrito porRicardo Assumpção