Fica em paz, amigão. Seja muito bem recebido…
dezembro 5, 2018 7:50 pm Deixe um comentário… onde quer que você esteja. Da nossa parte, no mundo terreno, acompanharemos seu caso para que se faça justiça!
Ficamos todos indignados pelo tratamento brutal sofrido pelo cachorrinho em um hipermercado da rede Carrefour, loja de Osasco. A comoção é grande. Nas redes sociais, mensagens de revolta e pedidos de justiça. Nas TVs, reportagens, depoimentos e declarações de pessoas famosas. Nossos clientes se expressam com perplexidade e espanto.
Embora seja prematuro identificar o(s) culpado(s), a julgar pelas primeiras declarações do Carrefour, surgem alguns indícios de como a empresa tratará o caso. Em nota, diz que o cão desfaleceu em função de uso de um ‘”enforcador” utilizado pelo Centro de Zoonoses: “…no momento da abordagem dos profissionais do órgão para imobilização, o cachorro desfaleceu em razão do uso de um “enforcador”…”. Houve pronta resposta da Prefeitura de Osasco, atestando a existência prévia de sangramento no animalzinho: “A equipe esteve no local e constatou a existência de um animal de espécie canina com sangramento intenso…”.
Em outra declaração, mais bem assessorado e ciente das bobagens anteriormente ditas, o Grupo Carrefour reconhece a gravidade do problema e se compromete a construir uma nova política para a proteção e defesa dos animais. Mas não nos enganemos. O objetivo da empresa passa longe de construir ações que visam o bem-estar animal. A declaração é, sobretudo, um modo de tentar apagar o incêndio cuja fumaça certamente causa irritação nos olhos sempre atentos da matriz francesa. Não há intenção genuína de contribuir com a causa animal. As imagens divulgadas são nítidas: houve maus tratos.
Não quero dizer, com isso, que não haja funcionários no grupo que realmente gostem de animais. Certamente há, e muitos. Fico preocupado, sim, com o descaso para com a vida, seja ela de qualquer espécie, especialmente quando leio na primeira declaração uma clara tentativa de se esquivar da responsabilidade e jogar a culpa no colo do Centro de Zoonoses.
Nesse exato momento, imagino como a alta hierarquia do varejista esteja discutindo o caso: já que não deu para abafar, agora é gerenciar a crise a curto e médio prazo, proteger a marca. De imediato, vamos apoiar algumas ONGs da região. Daqui a um tempo, dá-lhe promoções. O silêncio das pessoas a gente compra com desconto. É época de festas, o Carrefour é um dos maiores anunciantes, em alguns dias as redes de TV não tocarão mais no assunto. Ano que vem o presidente da empresa posa com um vira-latas no colo, mostrando alguns excelentes índices no tratamento de cães de rua e como a empresa é comprometida com os valores da sociedade.
Valores? Reunião de conselho: o Brasil, um dos principais países do grupo, apresentou resultados aquém do esperado. Ações abaixo do patamar previsto. O que fazer? Os desprezíveis acionistas mandam cortar despesas, um descompromissado presidente fecha o bolso, diretores e gerentes subservientes regulam verbas e descontinuam ações, incluídas as de apoio ao projeto de bem-estar animal. Fim de papo! Resultado: num encontro de fechamento trimestral, franceses e brasileiros comemoram a eficácia de suas respectivas gestões, discutindo, na estratosfera de alguma ilha do Mediterrâneo, as diferenças entre espumantes e champanhes.
É isso que queremos? Nossos filhos, nossos animais, valem no máximo um desconto em panetones no Natal e uma ou outra reportagem do tipo “me engana que eu gosto”? Ou seria mais inteligente trocarmos nosso poder de compra por ações que contribuam, hoje e amanhã, para uma vida mais digna?
Certamente nosso querido cãozinho achou a paz que não pudemos lhe proporcionar. Devemos a ele, no mínimo, esteja onde estiver, a luta para que outros da sua espécie tenham melhor sorte.
Muitos latidos de alegria pra você, meu amigo!
Abraços,
Ricardo e Fausto
05.12.2018
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Este artigo foi escrito porRicardo Assumpção